terça-feira, 30 de junho de 2009

De antes da gravidez até o nascimento


A DESCOBERTA

Vamos começar pelo começo: eu e o Fernando casamos em novembro de 2007. No ano seguinte, pra comemorar, planejei uma viagem de uma semana pra Guarajuba, na Bahia, num resort e combinamos de começar as tentativas durante essa nossa segunda lua-de-mel. Isso foi no final de agosto. Mal sabia eu que já estava grávida!! Engravidamos dia 17 de agosto de 2008, sem tentativa nem nada.

Finalzinho de agosto, início de setembro, fui visitar minha mãe no Rio e estava tendo campanha de vacinação contra Rubéola. Não sei porque decidi não tomar, achei que poderia estar grávida, sem menstruação atrasada nem nada, e quis fazer o teste primeiro. Esperei pelo primeiro dia de atraso, comprei um teste qualquer e pra ter certeza preferi esperar pelo dia seguinte de manhã, pra coletar a primeira do dia. Acordei super ultra ansiosa e lá fui eu pro banheiro. Fiz o teste e apareceu uma linha bem fraquinha, achei que era negativo, mas minha mãe disse que eu tava grávida. Pra confirmar, fui a um GO e pedi exame de sangue, que confirmou a gravidez.

Aí começaram as dúvidas. Desde que me entendo por gente adoro crianças! Menino, então, acho o máximo! Mesmo assim, não me imaginava grávida, morria de medo do parto. Sempre fui muuuuuuuuuuuuuito sensível em relação a qualquer tipo de dor: se caía e ralava o joelho era um choro interminável, gritava pra tomar vacina, quase morria pra tirar sangue... Sempre tive a certeza de que teria uma cesárea, afinal, eu nunca aguentaria um parto normal. Só doido pra querer sentir tanta dor, se vc pode tomar uma anestesia e não sentir nada! Por outro lado, meu medo de agulhas me deixava morrendo de medo de uma cesárea também, eu acabava sem ter pra onde correr... rsrsrsrs

Até que vi no Discovery Home and Health um programa sobre parto na água (é... às vezes o Discovery serve pra alguma coisa... hehehe). Falava de como a água pode servir como anestésico natural, tornando mais suportáveis as dores do parto. Opa! Adoro água, deve ser bem legal parir assim, o bebê já sai nadando, que demais!

Fui começar a procurar na internet sobre o nascimento na água, para saber onde eu poderia achar algum GO que fizesse aqui no Brasil, e acabei me deparando com alguns sites sobre parto humanizado, não lembro exatamente quais agora. Li alguns relatos e achei simplesmente lindo.

PROCURA-SE UM OBSTETRA

Vi então uma lista de médicos que se dispõem a assitir ao parto natural. No início fiquei meio desconfiada: será que eram só aqueles mesmo? E porque nenhum desses tem convênio? Fique achando que era tipo uma “máfia”, que forneciam aqueles nomes porque eram todos do mesmo “grupo” e estavam tentando fazer propaganda. Mas foi só conversar com todas as minhas amigas que já têm filhos pra descobrir que a verdade era aquela mesmo, não era teoria da conspiração. Muitas delas diziam querer parto normal, e que o médico até ia tentar, mas que... aí cada uma conta uma história diferente. Ou o cordão tava enrolado, ou o bebê era muito grande, ou o bebê estava em sofrimento porque a bolsa já rompeu faz 4 horas (!!!), ou não tinha dilatação suficiente, e por aí vai. Fui então conversar com o Fernando, que pediu pra que eu marcasse com alguns do convênio pra ver se tinha um médico de que eu gostasse e depois, se eu não gostasse de nenhum, aí sim veríamos os particulares.

O contratempo é que moro no Amazonas e planejei o parto em São Paulo. Teria que ver os obstetras numa das minhas visitas, o que não me daria muito tempo para pesquisar. Marquei então no mesmo dia com dois obstetras do convênio e um particular. Saí da casa da minha sogra memorizando a lista de perguntas pra saber o que o médico realmente pensa sobre o parto normal.

O primeiro obstetra do convênio me perguntou se eu tinha feito exames e eu disse que sim. Ele pediu o exame impresso. Como eu fiz no último dia antes da viagem, não estava com o resultado, mas tinha olhado na internet e vi que estava tudo dentro dos padrões. Aí foi mais ou menos assim:

“ Tá com os resultados aí?”

“ Não, mas eu conferi pela internet e deu tudo normal”

“Olha só, quando vem a primeira vez aqui já vou cortando as asinhas. O exame médico deve ser interpretado pelo médico. Esse negócio de ficar olhando na internet, a paciente já chega aqui fazendo seu diagnóstico, então pra que serve o médico? (nessa parte eu já pensando: é pra que serve mesmo?) Se for pra ficar procurando no Dr Google, nem adianta vir falar comigo que eu nem ouço mesmo. Aqui quem sabe sou eu, (quer dizer então que eu não sei nada, quem sabe é só ele?)o Dr Google é muito útil para os médicos consultarem, porque nós conseguimos separar aquilo que presta do que não presta.” (então ou eu sou superdotada, porque quando pesquiso na internet procuro várias fontes para me certificar, ou eu estou sendo enganada desde sempre e sou muito retardada)

E aí quando eu fui perguntar sobre parto normal, nem fui muito longe na lista. Já na primeira pergunta descartei logo.

“O senhor faz parto normal?”

“Olha, o parto normal é até melhor pra mulher e pro bebê pela recuperação. A gente pode tentar, mas qualquer coisinha errada durante o prenatal marco logo a cesárea, porque não gosto de arriscar. E além do mais você tem que saber desde agora que pro parto normal acontecer tem que haver uma combinação de vários fatores ocorrendo no seu corpo ao mesmo tempo, e isso não é muito fácil de acontecer, ocorre em apenas 30% das mulheres”.

Aguentei até o final da consulta por pura educação, ele dizendo que me esperava pra consulta do próximo mês, eu com o sorrisão amarelo “tudo bem, até mais”. E esse aí me foi indicado pela coordenadora do convênio como um dos obstetras mais procurados, um dos melhores da lista de atendimento. Imagina! Como assim parto normal só pra 30% das mulheres? Então não sei como a humanidade não foi extinta antes de inventarem a cesárea! Que absurdo! E querer fazer cesárea porque não quer correr riscos? Só ele acha que cesárea é menos arriscada que parto normal...

Saí de lá e fui para a consulta com o segundo obstetra. Esse já até apareceu na TV, em jornal, é famosinho, também indicado pela coordenadora do convênio. O começo foi promissor. Quando falei que procurava um parto normal ele foi todo sorridente falando

“Que ótimo, é raro a gente ver isso por aqui. As mulheres já chegam pedindo pela cesárea. Eu sempre quero tentar o normal, porque é a via melhor pra mamãe e pro bebê. E ainda acho que tem que ser aquele ambiente mais humanizado, com pouca iluminação, som ambiente, pra poder relaxar e pro bebê nascer mais confortável. Apóio muito o parto normal “.

Fiquei toda animada achando que tinha encontrado um obstetra! Comecei logo a lista de perguntas.: “O que o Sr. acha do parto de cócoras?”

Aí já era... “É muito bom pras índias lá no Amazonas, mas as mulheres em geral não tem condições não, não dá pro médico olhar nada, eu acho que não tem que ficar inventando moda”

“É que eu li que no parto de cócoras, por ter uma posição verticalizada, diminuem as chances de ter laceração”

“ Mas você não vai ter laceração. Vamos fazer um cortezinho, né! Muito melhor um corte reto e aí a gente dá uns pontinhos bonitinhos pra ficar bem pro marido. Você não vai querer ficar depois com uma xoxotona toda larga que o maridão não vai aguentar nem olhar pra ela”

Juro, gente com essas palavras mesmo! Fiquei horrorizada!!! Mas continuei pra ver onde ia dar... “Ah... eu não queria fazer episio não, teria que tomar anestesia local”

“Não, não, você já vai estar anestesiada, uma anestesia levezinha que tira as dores do parto mas dá pra sentir as contraçoes”

“Mas eu queria tentar sem anestesia”

Aí veio a melhor de todas: “Olha, eu até tento sem anestesia quando a mulher tem certeza, mas aí vai ter que aguentar tudo sem dar escândalo. Quer coisa mais feia que a mulher se esgoelando pra ter o bebê? É muito feio!! Se começar a gritar mando logo ficar quietinha, quem mandou não querer anestesia?”

Nem imaginei falar do parto na água! E pela segunda vez fui embora pensando “Como pode, ele é médico!! Como pode falar esses absurdos!!”

Cheguei então ao terceiro obstetra. Particular, da lista indicada no site. Começamos a conversar. Perguntei se ele fazia parto normal. Prontamente respondeu

“Eu não faço parto, quem faz é a mulher. Eu assito. E acho um absurdo quem tem pena das dores de uma mulher parindo, pq não há nada mais bonito que parir. Eu admiro e fico emocionado em cada parto.”

A diferença durante a conversa foi tão evidente, tão absurda, que eu não tive dúvidas: esse é O CARA que eu quero comigo na hora do parto. Só ficava pensando que o Fernando não tinha visto nada daquilo, que ele iria achar um dinheiro gasto à toa, porque já pagávamos convênio, principalmente porque os valores eram bem maiores do que ele esperava. Liguei pra ele e, pra minha surpresa, aceitou numa boa o fato de termos que pagar por fora pra ter um parto com P maiúsculo. E realmente faz sentido, considerando a miséria paga pelos convênios para o obstetra. Fiquei super feliz e tranquila, sabendo que seria respeitada e poderia realizar meu sonho de ter o filhote na água.

DURANTE A GRAVIDEZ...

A gravidez ocorreu super tranquila. É simplesmente o máximo curtir a barriguinha crescendo, o corpo se alterando, saber que tem um bebezão lá dentro, seu filho! Foi um período super feliz! (Tudo bem que no terceiro mês, enjoando pra caramba, não foi tudo um mar de felicidades... rsrsrs).

Meu pensamento desde o início era que, como eu era mãe de primeira viagem, o João Pedro iria nascer depois da data prevista, o que é o mais comum. Aí com 31 semanas perdi uma parte do tampão (agora eu sei: uma partezinha bem pequena; no dia achei que o bebê poderia nascer a qualquer momento! Rsrsrsrs) e comecei a achar que ele viria antes. Antecipei minha viagem pro Rio e esperei por ele dia após dia, pensando “será que é hoje?”.

Durante a noite as contrações de Braxton-Hicks intensificavam, umas inclusive chegaram a ser dolorosas. E sempre que eu acordava no meio da madrugada com uma contração dessas pensava que poderia ser o trabalho de parto começando. Esperava uns 10 minutos acordada e, como não vinha outra, desencanava e voltava a dormir (até ser acordada novamente, umas duas horas depois, com outra contração dessas e pensar de novo que poderia estar começando... rsrsrs)

E assim, dia após dia, cheguei a 40 semanas de gestação e comecei a ficar ansiosa, com pensamentos doidos do tipo “e se ele não quiser sair nunca da barriga? E se lá dentro estiver tão quentinho e confortável que ele resolva morar lá pra sempre?”

eu e meu amor grávidos de 41 semanas

Obviamente ele não quis. Chegamos então ao dia 20 de maio, quando começou...


O PARTO

Acordei às 8:30 da manhã com uma contração dolorosa, como as que tinha sentido no decorrer das últimas semanas durante a noite, só que um pouco mais forte. Quando passou, senti vontade de ir ao banheiro e aí veio um “splash” com uma mistura de sangue, tampão e líquido aminiótico. Pensei que era só mais um parte do tampão saindo, agora a maior parte. Liguei então pra minha parteira-doula e ela disse pra eu ficar de olho nas contrações, ra ligar novamente quando ficassem regulares, de 5 em 5 minutos.

Comecei a chorar de emoção e felicidade: enfim tinha começado, que feliz! Liguei pra minha mãe no Rio e ela ligou pras minhas irmãs. Logo a Dani me ligou de volta e conversando com ela descobri que não era só tampão que tinha saído, mas que a bolsa tinha rompido! Fui ao banheiro e vi que estava perdendo líquido e que tinha um pouco de verde. Liguei novamente pra parteira que me pediu pra que fosse à maternidade, poir poderia ser sinal de mecônio.

Cheguei meio-dia ao São Luiz. As contrações vinham umas fortes e outras mais fracas, mais ou menos 3 em 20 minutos, de vez em qdo dava uma espaçada maior, mas eram todas bem tranquilas. Doía, mas era uma dor tranquila, uma dor “do bem”, gostosa de se sentir. Ela indicava que meu filho tava vindo me conhecer, que ele estava chagando ao mundo. A cada contração, um sorriso.

Meia hora depois, chegou a parteira. Fomos pra uma salinha de triagem fazer uma cardiotoco pra ver como estavam as coisas com o JP. Estava tudo tranquilo, mas foi confirmado que realmente havia mecônio no líquido amniotico. E quando a bolsa estoura e há meconio deve se proceder a internação. Não medimos dilatação e fomos pro apartamento esperar o trabalho de parto engrenar. Deixa eu explicar: lá no São Luiz tem duas salas específicas pra parto normal , com banheira, banqueta de cócoras, estrelinhas no teto, mais espaço pra caminhar, se movimentar. Mas só vai pra lá quem está em trabalho de parto ativo, isto é, contrações de 5 em 5 minutos, durando mais de um minuto e no mínimo 4 cm de dilatação. Isso porque sabe-se lá quantas horas uma mulher em início de trabalho de parto vai levar até chegar à fase ativa.

Passamos, então, o dia no apartamento, eu Fernando, a parteira, depois chegou a Vera (mãe do Fernando), as contrações bem irregulares, poucas fortes, muitas mais fracas, e assim foi indo. Como não engrenava, as 19h foi chamada uma acunpunturista pra induzir. Imagina eu, com PANICO de agulhas, fazendo acupuntura! Imagina a minha cara!!! Ela chegou por volta das 20 horas, aplicou laser, e enfiou agulhas na barriga e tornozelo.

Depois disso, a parteira e o obstetra foram pra casa e falaram pra eu dormir e descansar, que era pra ligar quando engrenasse. Até então não tinham medido a dilatação. Fiquei tranquila vendo o jogo do Flamengo contra o Inter. Desepção: Flamengo toma um gol... Felicidade: empata, vai conseguir! Raiva: deixa virar no último minuto! Desliguei a TV bem chateada. Fomos dormir, eu e o Fernando. Quer dizer, ele foi dormir e eu fui tentar... Não conseguia ficar deitada de jeito nenhum. As contrações foram aumentando de intensidade, eu tinha que me levantar durante elas, tinha que me mexer, caminhar. Como não conseguia deitar, tentei dormir sentada numa poltrona, mas nem bem fechava os olhos e cinha uma contração. Caminhava, gemia, ufa! Passou! Vou sentar pra tentar dormir. E lá vem outra! E assim foi até às 4h30 da manhã, quando já estava exausta e acordei o Fer pra cronometrar o tempo entre as contrações e a duração. Algumas vinham com intervalo de 4, outras de 3 e todas durando mais que um minuto. Oba! Vamos ligar pra parteira!! Liguei às 5h e 5h20 ela já estava lá comigo. Vamos medir dilatação: 4 cm. Êba, vamos pro Delivery Room.

Chegamos lá, eu ansiosa, sentindo muitas contrações, ainda suportáveis. Usei a bola sueca que no início me aliviou muito. A parteira então pediu pra fazer uma cardiotoco. Nossa! A cada contração que vinha com a cinta amarrada na cintura eu ia nas nuvens! Esse troço aumentava muuuuuuuuuuuuuito a dor das contrações. Insuportável! Tira isso de mim!! Mas tinha que ficar com o aparelho até o coração do bebê dar uma acelerada. Sem limite de tempo, o único limite era o JP acelerar. E nada... Tomei um pouco de mel e pronto: finalmente acelerou. Que alívio tirar o aparelho.

Não lembro que horas eram, só sei que foram horas de contrações bem doloridas, que eu passei no chuveiro. O mais engraçado é que para cada momento do trabalho de parto havia algo que me aliviava imensamente. E mais tarde, quando eu ia tentar de novo, não adiantava nada! Essa posição do chuveiro, por exemplo: passei um tempão ajoelhada, abraçada na bola, e quando vinham as contrações era só movimentar pra frente e pra trás que se tornavam totalmente suportáveis. Saí do chuveiro um pouco, fui tentar a banheira, caminhei um pouco e mais tarde quando voltei o chuveiro nem era tão bom assim, tinha que procurar outra forma de aliviar a dor, que era cada vez mais intensa. Em alguns momentos pensava “meu Deus, o que eu fui inventar, pára tudo!”.

Em algum momento, veio o almoço, alguém me lembrou que eu não comia nada desde o jantar de ontem, que eu tinha que comer, mas só de pensar em comer... não dava! Fiz um esforço e consegui engolir uma fatia de melão. Chegou um ponto em que nada fazia as contrações ficarem suportáveis. A única coisa que me ajudava era o Fernando esfregando e massageando as minhas costas. Depois do “almoço” a parteira chegou novamente para fazer outra cardiotoco. Prendeu a cinta com o sensor e saiu. E eu falando “precisa mesmo? eu não quero, não coloca” Na hora eu tava muito sem noção e foi só ela sair do quarto pra eu tirar aquela cinta de mim...

Depois de um tempo chegou o obstetra, por volta de uma hora. Fez o toque e já estava em 8 cm. Nossa! Fiquei super empolgada e feliz. Apesar de exausta, minhas forças se renovaram, afinal faltavam só dois centímetros! Pedi pra parteira encher a banheira, mas quando entrei não me senti confortável: era pequena, rasa, a maior parte da minha barriga ficava de fora, com frio, enfim, não ajudou em nada pra aliviar a dor e eu saí. Sugeriram o chuveiro. Eu fui, mas também não era reconfortante. Comecei a me sentir um pouco fraca, mas sem vontade nenhuma de comer. Foi quando a parteira apareceu pra me salvar com um picolé de abacaxi! Que delícia!

Nesse momento eu me lembro de alternar entre o quarto e o banheiro: tentava sentar no sofazinho que tinah lá pra descansar um pouco,aí vinha a contração, eu me levantava, caminhava até o banheiro, na parte mais forte ficava de pé apoiando os braços na banheira, com o Fer esfregando minhas costas e cantando uns sons esquisitos; na parte mais fraca ia sentar no vaso e ficar gemendo.

Não posso deixar de falar como o Fernando foi perfeito nessa hora. Era mais ou menos assim:

“Amor, tá vindo, tá vindo, vem cá, rápido, massagem”

Ele começava então a massagem nas costas. “Ai, assim não, esfrega, esfrega!”

Ele começava a esfregar “Pára, pára e aperta, pára de esfregar e aperta”

Pacientemente, sem reclamar da doida que cada hora pedia uma coisa, ele começava a massagem de novo.

E depois que passavam as contrações era assim: “Amor tá frio, cadê o roupão?”

Ele ia catar o roupão que eu tinha jogado em algum canto, porque logo depois eu saía desesperada “Tá muito quente, tá calor, tá calor” e começava a suar.

E assim foi até que em um determinado momento o obstetra foi de novo checar a dilatação: ainda 8 cm! Como pode? Depois de tudo isso não andar nem um pouquinho!! Então lá foi ele reduzir os 2 cm restantes com o dedo. Pediu pra empurrar, fazer força que ele ia afastar o colo do útero. Nossa, que dor! Mas eu pensava que pelo menos íamos entrar na fase menos dolorida segundo os relatos que eu tinha lido, faltava pouco, só faltava o expulsivo. Fiquei mais uma vez animada, achando que ia acabar em meia hora. Foi aí que eu pedi pra entrar na banheira pro expulsivo e o obstetra disse que não seria possível. Como havia mecônio na bolsa e o trabalho de parto tinha sido bastante extenso, precisaríamos monitorar o expulsivo pela cardiotoco e isso não é possível na banheira. Que balde de água fria! A cada contração do expulsivo eu olhava pra banheira e pensava “poxa, queria tanto que fosse aí”.

Acho até que foi esse pensamento que fez com que meu expulsivo durasse 3 horas! Comecei deitada de lado, fui pro vaso sanitário (imagina se o João resolve sair nessa hora? rsrsrsrs), vomitei tudo o que tinha comido (uma fatia de melão e um picolé de abacaxi), voltei pra cama, deitada de lado, depois na banqueta de cócoras, abraçada na cabeceira na cama de joelhos, e no final de novo a banqueta de cócoras. Tive que ter ajuda do obstetra pra poder direcionar corretamente a força, tinha medo de fazer força durante as contrações, medo da dor aumentar. E também tem o fato de eu estar em trabalho de parto há horas sem comer e ter passado a noite anterior em claro, eu estava muito cansada. Além de tudo isso, tive que passar grande parte do expulsivo com a cinta da cardiotoco, super desconfortável.

Nesse momento, a equipe foi fundamental. A cada contração me apoiando, segurando minha mão, sempre com palavras de incentivo. Até agora consigo ouvir claramente “Força, Domi! Tá vindo! O João pedro tá vindo! Olha eu vi a cabecinha dele, tá descendo! Força Domi, tá quase!” E eu achando que tava quase mesmo, fazia a maior das forças na contração seguinte achando que já ia nascer. Aí vinha um “Isso, Domi, é isso aí! Ele desceu mais um cm”. E eu pensava “então na próxima faço uma força maior ainda e ele nasce”. E assim foi indo durante as 3 horas. Em algum momento eu sei que comecei a rir e do nada soltei um “eu quero anestesia agoraaaaaaaaaaaaaaaa!”. Eu não tinha noção do tempo, não tinha noção de nada, só fazia força e mais força a cada contraçao. Em um momento, durante uma contração, olhei pro teto e não eram somente uns fios de luz imitando estrelinhas, mas eu vi todo o céu azul escuro, era noite e o céu estava estrelado. Até que eu senti uma pressão bem forte dentro de mim e eu percebi que era a hora. Mas as contrações foram perdendo a intensidade, talvez por causa do cansaço. Então a parteira sugeriu “um cheirinho” de ocitocina. Eu não queria de jeito nenhum. Mas ela disse que era um cheirinho de verdade, era um frasquinho pra inalar. Aceitei e momentos depois as contrações se intensificaram. Fui fazendo força e mais força, até que senti um ardor imenso e saiu um pedaço da cabeça e pensei “nossa, é o círculo de fogo”. Na força seguinte, saiu mais uma parte e senti arder mais: “nossa, agora sim, isso é o circulo de fogo”. Até que numa das forças saiu a cabeça: “uau! tá pegando fogo de verdade!!”. O obstetra nesse momento viu que tinha uma circular de cordão, que o Fernando ajudou a desfazer. Percebeu que o João tava bem cansado e pediu pra eu fazer a maior foraça que conseguisse pra que ele nascesse logo, disse que o corpo teria que nascer todo de uma vez: “ faz a maior força da sua vida, Domi, o João Pedro tá chegando, traz ele!”. Me concentrei e fiz uma mega ultra força e saiu o corpo inteiro! Realmente ele estava cansadinho, não chorou nem se debateu, ficou ali no chão, no meio dos lençóis, quietinho. Ele recebeu oxigênio, esperamos o cordão parar de pulsar para cortar – o Fernando que cortou – depois ele veio pro meu colo e eu nem acreditei que abraçava meu filhote, meu filho! Que emoção! No meio disso fiz mais uam força pra sair a placenta, mas nem percebi direito, todas as atenções eram pro João Pedro. O pediatra pegou o João pra aspirar, pesar e dar o primeiro banho de balde. Depois ele voltou pro meu colo. Coloquei ele no meu seio, mas não quis mamar, ficou lambendo igual a um gatinho, a coisa mais linda do mundo!

Agradecimentos:

Em primeiro lugar a Deus, que me possibilitou a maravilha de ser mãe e me deu o João Pedro.

Ao Fer, que esteve comigo durante toda a gravidez e foi fundamental durante o parto. Sem o apoio dele, desde a escolha do obstetra, até segurar minha mão durante o parto, não sei se eu conseguiria.

Ao obstetra, que me ajudou a trazer o João Pedro, me deixando à vontade quando eu precisei e me guiando quando necessário.

À parteira-doula, que esteve presente com seu senso de humor, obrigada pelo seu apoio durante todo o trabalho de parto e pelo picolé de abacaxi!

Ao pediatra, que é o melhor pediatra do mundo, encantador de bebês. Fico triste quando penso que estou a mais de 3 mil km de distância e que vou ter que arranjar outra pessoa pra acompanhar o JP.

À lista de discussão Maternas_SP, mesmo sem escrever muito, li cada mensagem postada e todas elas me ajudaram a pensar o processo do parto e a maternagem de uma forma diferente do habitual. Obrigada por me ajudar a “sair da matrix”.